Tuti e a Capa Mágica 1| A INSPIRAÇÃO
set 17
2 min de leitura
0
0
0
Naquele dia eu fazia pela centésima vez o mesmo caminho da minha casa até o metrô, quando me deparei com uma garotinha magrela passeando com seu bichinho de estimação. Eu normalmente passaria completamente batido por essa situação, se não fosse o fato de que a garotinha passeava com um coelho preso em uma coleira (daquelas que se prende debaixo das patinhas) feito um cachorro
Como se o fato de passear com um bicho como se fosse outro, já não bastasse o para eu me apaixonar por aquela imagem, fui imediatamente enfeitiçada pela naturalidade à que ela respondia um turbilhão de perguntas de um grupinho de curiosos que (assim como eu) acharam aquela criança o máximo.
Ela me ganhou quando respondeu francamente que: “ele até come alface e qualquer coisa que jogarem pra ele, mas gosta mesmo é de cenoura.” Simples assim, deu a entender, afinal de contas é um coelho gente!
Algo no tom dela, nos olhos grandes e brilhantes, na espontaneidade de quem não está entendendo o motivo da comoção, me encantou. E eu simplesmente não consegui tirar mais aquela garotinha da cabeça.
Fui para o metrô e da estação de casa até o ponto final escrevi uma cena. O que mais uma garotinha como aquela faria? O que poderia ser tão normal para ela e tão distante para mim? O que aquela garotinha tinha que me parecia tão familiar?
Aquela garotinha tinha um pouco de mim. Um eu muito, muito distante e escondido que tinha ficado para trás, já meio esquecido.
Então a cena surgiu. Uma garota como aquela falaria como uma árvore. E isso seria só o começo.
“ Tuti encarava uma árvore à sua frente e por um segundo chegou a perder a fala. Nunca, em todos os seus oito-quase-dez anos tinha visto uma árvore como aquela. Seus galhos grossos pareciam pernas e os finos mais pareciam braços. Além disso, a árvore estava de um jeito que lembrava uma pessoa ajoelhada, com uma das pernas dobrada. “Se árvores pedissem alguém em casamento, acho que seria assim”, Tuti pensou enquanto olhava os detalhes.
O tronco era todo rachado e levava ao topo coberto por folhas alaranjadas. De pescoço esticado, olhando para cima, a menina perguntou a Túlio:
— Você sabia que dá para descobrir quantos anos a árvore tem pelos anéis que ficam no tronco delas?
— Mas só dá pra ver os anéis se a gente cortar a árvore. Então como a gente fica sabendo? — respon deu Túlio, que era até muito esperto para um coelho que nunca tinha falado antes.
— Ih, é verdade. Deixa eu pensar… — disse Tuti. — Já sei, vou perguntar para ela. Minha mãe disse que se a gente perguntar com delicadeza a idade de alguém, não é falta de educação.
A menina se aproximou da árvore e foi logo dizendo.
— Licencinha, Dona Árvore, quantos anos a senhora tem?”